sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Traumas

Personagens: A menina, o irmão e o primo (crianças criadas juntas) e a mãe

Cena 1: A mãe dá um bombom para cada criança. O irmão e o primo devoram os seus rapidamente. A menina come metade do seu lentamente e guarda a outra metade, tentando prolongar ao máximo o prazer proporcionado pelo doce, sabendo o quanto aquele momento pode demorar a se repetir. Depois, quando ela pega a metade guardada para comer, o irmão e o primo choram querendo o seu bombom e a mãe obriga a menina a dividir com eles.

Cena 2: A menina estuda muito e passa em todas as disciplinas da escola primária no terceiro bimestre. O irmão e o primo não estudam direito. Pegam recuperação em muitas matérias (leia-se todas que não sejam educação física). A menina faz os trabalhos de recuperação deles. Dá aulas para prepará-los para as provas. Eles finalmente passam de ano e ganham mil presentes por terem passado. A mãe acha que a menina não fez mais que a obrigação.

Cena 3: A mãe traz para casa um pedaço de rocambole, um dos doces preferidos das crianças. Era hora do almoço e o doce seria comido como sobremesa. O rocambole foi partido em 3 pedaços. O primo comeu o seu. O irmão comeu o seu... e o da menina.

Qualquer semelhança com a realidade não é coincidência.

[A menina contou recentemente essas histórias à mãe, a fim de explicar por que o irmão e o primo se tornaram adultos mal-educados (e ela um adulto sem coração). A mãe ficou muito surpresa. Pediu desculpas por ter gerado os traumas. Como todos sabem, ela não é particularmente fã de desculpas. Ao contrário do que possam estar pensando, a menina ama a mãe. Só não gosta de deixar ninguém vivendo na mentira.]

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Então, o vestibular...

Pois é, sobrei.
Desperdicei muito a minha nota de redação. Pra que você tira uma mega nota em redação pra tomar pau no vestibular?
Devia ter ficado em casa dormindo ou assistindo sessão da tarde.
Lembram que eu contei que fui péssima na prova de História? Então, não foi modéstia minha não, a minha nota nessa prova me fez rodar completamente. Exatamente essa, porque as notas das outras matérias foram até legais, creiam ou não.
Sobrei, principalmente por uma falta de organização minha. Não, não teria estudado o que caiu na prova de História nem se eu tivesse tido mais tempo, só deveria ter feito vestibular normal, e não obtenção de novo título.
Acompanhem a comparação:

Vestibular
• Tem 1ª etapa (que eu teria chance de passar bem, considerando que a maioria do povo que faz meu curso é ruim de exatas e eu sei contar direitinho)
• Eu seria beneficiada pela cota e minha nota seria multiplicada por 1,15
• Eu concorreria a uma das 200 vagas disponíveis
• Eu concorreria com 15 por vaga na 1ª etapa e com apenas 2 por vaga na 2ª

Obtenção
• Não tem primeira etapa
• Nada de cotas
• Eu concorri a uma das 23 vagas disponíveis
• Eu concorri com 51 por vaga na 2ª etapa

(Não, não consegui inserir uma tabela no blog e estou com preguiça de tentar mais)
Todos devem estar se perguntando: por que raios, então, eu não fiz vestibular?
Porque a inscrição pro vestibular foi em agosto, quando eu nem queria, e a inscrição pra obtenção foi em novembro, quando eu cismei que queria.
Bem feito pra mim.
Fiquei triste? Sim. Principalmente quando eu vi que fiquei na 122ª posição na obtenção. Com essa nota, provavelmente eu teria entrado se tivesse feito o vestibular normal...
Buenas, não vou chorar pelo leite derramado, né. Tá, vou, mas não aqui.
O que eu aprendi com isso? (É, agora que descobri que tudo por que eu passo é pra eu aprender alguma coisa, trato de aprender logo pra ficar livre.)
Aprendi como é a prova de humanas da UFMG, que eu não conhecia. Pode ser útil para o ano que vem, se eu não mudar de idéia até lá.
Aprendi que não devo fazer prova pra obtenção de novo título no ano que vem, mas sim pra vestibular.
Aprendi que parte do stress com que fiquei era absolutamente dispensável.
Provavelmente nem era nada disso que era pra eu aprender, mas como eu entrei nessas de aprender as coisas recentemente, aprender 3 coisas de uma só vez já está mais que ótimo.
Que mais além do vestibular?
Comecei a fazer o negócio dermatológico e uma pessoa – uma pessoa inteirinha! – já notou. Uma pessoa que não sabia do tratamento, que fique claro.
Sempre prometia que ia arrumar os meus armários depois que passassem os concursos. Pois bem, o vestibular acabou no dia 08 e eu me vi pela primeira vez em dois anos sem nadinha pra estudar, nem perspectiva. Antes de eu ter tempo de ter uma crise de abstinência, eu, minha mãe e minha prima fomos arrumar os armários. Tiraram todas as minhas roupas molambas (é verdade que eu não usava, mas eram minhas!) e organizamos tudo. Tá até sobrando espaço. E o mais impressionante: isso foi no dia 10 e estou super mantendo.
Sobre eu não ter nada pra estudar, quase tive mesmo uma crise. Não estou acostumada a isso. Estava mesmo em stand by esperando sair o resultado do vestibular, porque se eu passasse, claro que ia começar a sofrer com as aulas imediatamente, a despeito delas só começarem em março.
Aí vem o lado bom de eu não ter passado. (Tem um lado bom? Tem que ter!) Sem querer ser Pollyana, mas que bom é não ter esse tipo de preocupação com estudo, eu tinha me esquecido!
Não estou inscrita em nenhum concurso, não estou esperando nenhum específico ser publicado, quero ainda fazer o vestibular, mas nem pretendo começar a pensar nisso antes do segundo semestre.
Enquanto esperava o resultado, recomecei a ler "A menina que roubava livros", que ganhei no meu aniversário. Antes de chegar à metade, peguei com Thays “Um bestseller pra chamar de meu” e devorei as 700 e tantas páginas em uma semana lendo principalmente nos ônibus – viu como eu pego ônibus? – e acabei exatamente no dia do resultado do vestibular. Em outros tempos, eu me perguntaria: e agora? Mas agora eu tenho “A Menina que roubava livros” para terminar e um tantão de livros na fila pra começar.
Não é prêmio de consolação, mas acho realmente que um pouco de leitura de entretenimento vai me fazer bem, já tem feito, aliás.
Sexta-feira fiz uma visita, a uma família de amigos de infância, que até já comentei aqui. Isso me faz lembrar que tenho algumas visitas a fazer. E algumas peças pra assistir, já que estamos em plena campanha de popularização do teatro – a única época do ano em que assisto alguma peça.
É bom estar à toa. Não totalmente à toa – não larguei o emprego e continuo dançando e vou voltar pra fisioterapia essa semana e pra academia na semana quem vem - , mas pra quem estava cego, ter um olho é motivo de festa, não é?
Tenho também alguns ponteiros da minha vida pra acertar, como já andam dizendo por aí, e acho que estou num ótimo momento pra começar a pensar nisso. Antes que apareça algum concurso...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Mas o vestibular...

Como já propangandeei, estou de volta à ativa.
A ativa de escrever, né, porque postar, mesmo, só quando dá. Continuo sem acesso aos blogs do trabalho, e tenho que me virar pra postar aqui, acordando mais cedo pra fazer isso. Claro que, pra emergências como a da semana passada, o computador da minha chefe está aí pra isso. Emergência porque comecei esse post aqui na quinta (08/01) e tive que passar o do aniversário do meu pretinho na frente por motivos óbvios.
Mas então. Quis escrever do vestibular porque o povo nem me liga perguntando como foi o vestibular, me ligam perguntando cadê o post do vestibular. Adoro perder em popularidade pro meu blog...
Foram 4 dias de inferno. 12 horas de prova. Tá, só passei lá umas 10, mas, né, antes ficasse um só dia do meio-dia à meia-noite, ninguém merece!
Deus sabe que não dou conta de fazer 4 provas num dia. Vide o dia da primeira fase da prova da Assembléia, em que quase precisei do Samu pra me levar pra casa.
Então, fui mal na prova, mal demais. Assim, fui mal na maioria delas, e na de História eu fui pééééssima.
Talvez eu tenha estudado tanto Geografia e Filosofia que esqueci da pobre da História (pobre de mim, né?). Ou então a prova foi difícil mesmo, como estão dizendo por aí. Porque claro que não deu pra eu ler todo o conteúdo de História da 5a série ao 3o ano, como costuma cair, mas, enfim, eu assisti as aulas. A sensação que tive quando li a prova é de que eu tinha estudado a matéria errada. Triste.
Eu não sabia nenhuma resposta da prova de História. Mas, se criative valer pontos, quem sabe, né? Escrevi até o braço doer.
Antes que alguém (mais) me pergunte se já saiu o gabarito, lembro que a prova era aberta. De Redação, Geografia, História e Filosofia, nessa ordem. 3h de prova cada dia, de segunda a quinta-feira da semana “repassada”. Que mais?
Minha sala ia da Izaides ao João Cláudio, passando por poucas Janaínas, excepcionalmente.
A tal da Izaides, além do nome féxiom, me pediu a borracha emprestada no primeiro dia. Sussurrando. Só faltava a aplicadora achar que eu estava colando, né? Se eu fosse eliminada, ia ser obrigada a voar de unhadas na cara da Izaides. Pois que no segundo dia, a anta também não levou borracha. Tive que espiar a mesa dela pra ver, não me contive. Pensei: “não merece passar no vestibular”. Dito e feito. No terceiro dia ele nem ousou aparecer. Menos uma!
A coleguinha do outro lado tinha o nome mais bonito – Janaína. E não pude deixar de notar que ela usou a mesma roupa e sapatos todos os dias. Ela que é esperta. Se eu não tivesse ficado escolhendo sandalinha combinando com a blusa, talvez tivesse dado tempo de estudar o texto do Honneth. Apesar de eu não acreditar em filósofo vivo. Me recuso. O cara só passa a se chamar filósofo depois que morre, não é não? Quando vivo ele se chama... doido. Desculpem os “filósofos”, mas não consigo pensar em outra coisa pra nomeá-los. Sim, estudei Filosofia pela primeira vez na vida e fiquei deslumbrada. Estudei um bocado de Geografia e História também, porque, além de nem amar, há 10 anos que eu formei no ensino médio, então... Claro que não estudei português. Além de falar fluentemente, se eu precisasse estudar mais gramática pra essa prova me daria um tiro no ouvido, porque, né? Vou começar a estudar português de novo só em 2010, de modo que dará tempo de eu me adaptar ao novo acordo ortográfico dentro do prazo. Eu, que sempre amei o trema... Mas depois eu falo disso.
Tadinho do meu namorado, virei um demônio durante a prova e acabei descontando a tpm plus super nele, que me levou e buscou todos os dias. Eu fiquei uma pilha de nervos, e briguei com todo mundo, incluindo a aplicadora da prova, a mulher da farmácia, eu mesma, mas assim fui.
Bom, ainda bem que acabou.
Pra quem está mais ansioso que eu com o resultado, aviso: sai dia 30/01 e postarei a respeito, como já prometi anteriormente.
Pra quem está mais esperançoso que eu, outro aviso: como fui muito mal na prova, as chances de eu passar são ínfimas. Sim, existem, mas são ínfimas. Quando falo isso pras pessoas, tem gente que diz “mas vc é inteligente”. Suponhamos que eu fosse. Mas vai ser inteligente competindo com 51 pessoas por uma vaga? Enfim, após o resultado eu conto pra todos, só não quero ninguém nutrindo expectativas.

P.S.: Beijo pra Gaby que me forneceu a maior parte do material de Filosofia que usei. Aliás, preciso marcar pra encontrar e devolver.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Porquê


Porque se o meu príncipe encantado viesse num cavalo branco, não seria perfeito. Porque Deus sabe como eu tenho horror a cavalos. O meu personal príncipe veio de ônibus mesmo, graças a Deus. Lá onde o conheci. (E porque eu nunca acreditei em coincidências...)

Porque não pode ser coincidência a minha cabeça encaixar direitinho no peito dele. E dormir a noite inteira nesse peito não tem preço. E acordar e ficar olhando ele dormir também não.

Porque eu adoro chamar de pretinho esse menino mais bege que eu.

Porque eu adoro esse bração forte, que me carrega sem esforço.

Porque com ele eu aprendi que nem todo mundo que malha o corpo é porque deixou de malhar o cérebro.

Porque ele me ensina um monte de coisas.

Porque ele me provou tudo o que eu sempre disse/pensei/defendi sobre relacionamentos estava errado. E que o nosso podia dar super certo com um pouquinho de tolerância.

Porque outro jeito que eu o chamo é de pai dos meus filhos (Até filhos eu vou ter agora? Pior que vou. Não agora, agora. Mas vou.)

Porque adoro ver TV com ele, mesmo ele odiando a Globo (que adoro) e achando que o controle remoto dá leite.

Porque eu sempre quis namorar alguém que visse comédias românticas comigo. Apesar de eu me recusar a ver filmes de luta.

Porque eu adoro rir junto. Mesmo se for de mim.

Porque ele levanta cedo pra ir preparar meu café. E muitas vezes traz na cama pra mim.

Porque ele me ama, me mima, me cuida. E me deixa cuidar dele.

Porque ele me chama de linda toda hora. Até quando eu acabo de acordar. Até quando eu acabo de tirar as trancinhas. Com a ajuda dele, claro.

Porque ele faz a barba muito bem e eu adoro.

Porque se eu pensar alto alguma coisa que por acaso eu esteja com vontade de comer, ele faz.

Porque eu sou sempre estressada, e ele está me ensinando a desacelerar. (Ai, meu Deus, até livro do Dalai Lama eu já estou pedindo pra ler! Osho ainda não, né, aí já é demais!)

Porque eu adoro falar com ele mil vezes por dia. E ver todo dia. E quero acordar junto todo dia (pronto, falei!)

Porque ele é lindo e gostoso e fofinho.

Porque ele é o homem da minha vida.

Porque ele é o meu amor.

Porque ele detesta meus posts, mas não o mandei namorar uma blogueira e fazer aniversário bem quando ela volta à ativa.

...

Parabéns, pretinho! Te amo demais!


“A rosa não tem porquês. Ela floresce porque floresce”
Ângelus Silésius

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Receita de ano novo

Carlos Drummond de Andrade


"Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."