sexta-feira, 26 de junho de 2009

Michael Jackson





Michael Jackson morreu ontem.
Triste, muito triste.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Sinal de vida


Andam dizendo por aí que estou morrendo.
Aí vem aquele papo de Fafich, né: E quem não está?
Já contei aqui que estava doente, depois contei que não tinha morrido, mas não contei que não sarei.
To com sinusite há um mês – minto, faltam dois dias pra dar um mês – to na terceira fase de antibióticos, entremeada por duas alergias provavelmente causadas pelos próprios antibióticos – mais um dos fofos efeitos colaterais.
To dopada de remédios. Quase nada, dois antibióticos combinados (diferentes dos dois anteriores que não funcionaram) um corticóide via oral e outro nasal, soro, anti-histamínicos. To morrendo de sono, zonza, lerda, não to ouvindo direito, não entendo nada que falam comigo. To vindo trabalhar, mas já pedi pra ninguém me passar nada. (quem seria doido?) To mais cega que o normal também, to usando bastante os óculos.
Mas, claro, tem coisas boas também: vários amigos sumidos me ligando (porque ouvem de outros que eu estou nas últimas), meu amor me cuidando em tempo integral, eu como e durmo demais e minha mãe me liga tododia (adoooro). Agora ela quer que eu procure uma rezadeira. Perdeu a fé na medicina convencional.
Mas to melhorando, mesmo. Essa noite eu até dormi!
Porque sabe que nariz entupido só funciona – precariamente – na vertical, né. Deitou, sufoca. Uma dilícia.
Muita coisa aconteceu nesses dias.
Esse blog fez aniversário de dois anos dia 24. Sem chance de post, a despeito da promessa até de festa feita no ano passado, porque caiu junto com a prova cabulosa pra que eu estava estudando.
Sim, outro concurso, não tinha contado não? Pois foi. E nesse eu nem fui bem. Estava passando mal sim, claro, mas a notinha mais ou menos foi devida à associação de dedicação menor que a necessária e algum empenho na direção errada. Algo como tentar matar uma formiga com uma escopeta, outra hora eu conto aqui.
Dias antes disso, fiz um ano de namoro também. Saco cheio de pessoas dando parabéns só pro Fábio, como se ele fosse algum tipo de herói por me aturar.
...
Não quero falar sobre isso. Tá, sou muito chata, mas o namoro tá tão legal! Talvez se eu não tivesse amanhecido no hospital com crise alérgica a comemoração teria sido mais expressiva! Mas ainda assim foi legal. Ano que vem vai ter até post (eu e minhas promessas...).
Prometo nunca mais prometer algo que eu não sei se poderei cumprir.
Mas nesse dia do aniversário de namoro, inacreditável, meus braços e pernas lotados de bolinhas vermelhas, como se mil pernilongos tivessem me picado juntos (e me passado catapora). Quando acabou – dias depois –, pensei: nem importo das minhas coxas serem moles, só de não terem aquelas manchas! Nunca achei que eu fosse pensar isso antes dos 70 anos. E nem que com essa idade eu rezasse pra ter saúde. Nada demais, só dormir, respirar sem dificuldade e não sentir o vento em forma de agulhadas no rosto.
Passei mil dias sem trabalhar – ou seis – e essa parte também foi legal, to a fim de aposentar já. Mas já sei, tenho que esperar até 2036, se a legislação não mudar até lá. Ou então posso ficar de licença por dois anos direto e me aposentar por invalidez... melhor não.
O pior é ter que aturar gente falando: “claro, mas você não come”. Calúnia maior não pode haver. E nem vou falar em quantidades, porque eu adoro comer. To comendo brócolis todos-os-dias desde o início do ano e nem anemia eu tenho mais. Será que alguém acredita mesmo que um vírus ou uma bactéria ou sei lá o que cause as doenças respiratórias pergunte: “Quem comeu no McDonalds hoje?” Ah, tenha dó! É mais um caso de combinação de rinite alérgica, condições climáticas desfavoráveis, desvio de septo nasal, carpete, ar condicionado, bactérias particularmente resistentes e azar, muito azar. Só isso.
To melhorando, juro. Só falta o nariz, a garganta, a cabeça e o humor. Paciência.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

De Acordo Com o Acordo


Caio Pedra e Janaina Pimenta



Dentre as inúmeras riquezas culturais e naturais de que se podem orgulhar os brasileiros, inquestionável destaque possui a Língua Portuguesa aqui consolidada. Foram necessários muitos séculos e influência lingüística de vários povos para a composição do resultado que hoje conhecemos. Da simbiose de línguas européias – notadamente o Português de Portugal – e dialetos africanos e indígenas, teve origem um idioma tão rico que pouco conhecido pela maioria de seus falantes. São incontáveis os recursos lingüísticos de que podemos desfrutar na construção de um texto. Entre mesóclises, elipses e silepses, a Língua Portuguesa mostra-se mais bela quanto mais dela se conhece. Prevê diferentes colocações pronominais, infinitos sinônimos, além das mais diversas figuras de linguagem. Engana-se quem a vê como exigente ou complicada, nossa língua é generosa: oferece alternativas e é dinâmica e moderna, sem perder o brilho e a elegância de seu eruditismo.

Com o argumento da defesa da unidade essencial da língua Portuguesa em busca de seu prestígio internacional, foi elaborado, em 1990, um projeto de texto de ortografia unificada do idioma. Assinado, desde então, pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras e delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com adesão de observadores da Galiza, o documento não produziu efeitos no Brasil até janeiro de 2009, já que só foi promulgado através do Decreto número 6.583, de setembro de 2008. A princípio, somente 0,8% das palavras do nosso vocabulário sofrerão alterações. Parece pouco – afinal, em Portugal, por exemplo, esse índice chega a 2% –, mas não é. A triste realidade de que dominamos apenas pequena parcela do linguajar que prevêem, por exemplo, os nossos dicionários tranqüiliza a maioria das pessoas. O fato, entretanto, é que as mudanças não se limitam a termos em desuso ou palavras pouco utilizadas. Pelo contrário, elas atingirão, inclusive, algumas das palavras que utilizamos com maior freqüência.

O objetivo, inicialmente grandioso e arrojado, parece inconsistente ao considerarmos a heterogeneidade da língua mesmo dentro dos limites fronteiriços do nosso país. A grande extensão territorial do Brasil e suas diferenças culturais internas resultam em regionalismos e impedem a uniformidade. O próprio acordo admite essas variações. Se nem aqui o Português é unificado, o que dizer entre nações de características tão diversas?

Feliz ou infelizmente, as mudanças serão rapidamente assimiladas pela população, pois a maior parte dela não tinha mesmo conhecimento pleno das regras antigas e, portanto, não se surpreenderá com as novas. Quantos açougues precisarão riscar o trema de suas ofertas de “lingüiça”? E quantas donas de casa realmente perceberão a diferença e a atribuirão ao novo acordo? Para muitos, o sinal de diérese (acredite, era esse o nome do trema) nunca foi verdadeiramente essencial para o cumprimento de sua função de diferenciação fonética. Em contrapartida, medidas como a extinção do acento diferencial ainda causarão muitos transtornos àqueles que dominavam seu emprego, que serão os principais atingidos pela reforma.

Os professores terão que se adaptar, assim como os livros didáticos. Os jovens em idade escolar poderão “esquecer” parte do que estudaram. Mas a maior responsabilidade talvez fique a cargo das crianças em alfabetização, que precisarão diferenciar desde cedo a escrita e a pronúncia, já que a primeira não mais determinará a segunda. Apenas através da memorização, aprenderão, por exemplo, que, foneticamente, “teia” e “ideia” têm muito menos em comum do que aparentam. Além disso, estarão expostas ao constante contato com a norma antiga, presente na esmagadora maioria dos livros, revistas e textos impressos atualmente.

O próprio texto do acordo é, de certa forma, excludente, pois, escrito em irretocável norma culta, apresenta, em vários momentos, passagens de difícil compreensão, dada a sofisticação vocabular. O mais surpreendente, entretanto, é que seus trechos mais interessantes começam com “continuam” ou “permanecem”, e dizem respeito a algumas regras a serem mantidas, comprovando a vastidão da nossa língua ou a nossa ignorância em relação a ela.

É compreensível a relevância da proposta. A intenção de fortalecer internacionalmente a Língua Portuguesa insere-se em um contexto de busca por maior aproximação entre os países signatários do acordo. Porém prejudica o aprendizado do idioma ao modificar a grafia mantendo a sonoridade. É difícil propor mudanças a algo tão completo e bem estruturado quanto a Língua Portuguesa, pois nenhuma alteração ortográfica poderia ser compatível à sua grandiosidade. O que aconteceu, então, foi quase um empobrecimento, modificações esparsas que não representam nenhum acréscimo. Já que era para mexer então, para que manter a crase, que tanto complica a vida de quem escreve? E quem precisa do H inicial?



Publicado no jornal Voz Acadêmica, da Faculdade de Direito da UFMG, em abril último (página 7).