terça-feira, 4 de setembro de 2007

Desculpe!


Sei que fiquei de falar sobre o NÃO, mas não assinei nada me comprometendo, o que me deu o direito de mudar de idéia. Vou falar sobre o DESCULPE.
Odeio essa palavra (novidade). Na verdade, odeio quando ela é usada do fundo do coração. Só acho-a útil se for pra ser proferida mecanicamente. Não estou louca. Vou explicar. Se você esbarra numa pessoa, por exemplo, é socialmente recomendado murmurar desculpas (Sim, algumas amarras da sociedade são importantes, claro. Vááárias).
Eu, principalmente, que faço aula de dança de salão, piso ou sou pisada todo o tempo. E em qualquer das situações, peço desculpa (quem já dançou comigo sabe que eu peço desculpas a cada 3 segundos, em média. Sim, eu danço mal.) Os alunos, na verdade, costumam ter as seguintes reações frente às minhas desculpas:
- Quando sou eu que piso, peço desculpas e eles aceitam, falando algo como “Não, tudo bem”, “Tem problema não” e afins. E aceitam as desculpas, achando que são sinceras;
- Quando eu sou pisada, peço desculpas e eles riem. Em geral não falam, mas pensam algo como “Mas fui eu que pisei no seu pé!”. E ignoram minhas desculpas, achando que não são sinceras.
O que a maior parte deles não sabe, ou não aceita, é que quando eu sou pisada é que sou culpada. Algo como devia-ter-tirado-o-pé-antes,não-tirei-entao-a-culpa-de-ter-sido-pisada-é-minha. Mas, pra não entrar no mérito (claro que não vou iniciar uma discussão dessas no meio da aula de dança), acabo pedindo desculpas nos dois casos. Inclusive quem tem muito a manha de dançar ignora minhas desculpas em qualquer dos casos, sabiamente.
Essas são as desculpas de que gosto, pronunciadas apenas por dever social, sem intenção de reparar algum dano, só mesmo pra não ficar aquele silencio constrangedor de acusação mútua.
Agora, por que não gosto de desculpas do fundo do coração:
Odeio o fato de as pessoas acharem que desculpas têm o poder de consertar ou mesmo curar. Tenho verdadeira vontade de matar alguém que me fere profundamente e depois vem todo bonachão com uma braçada de desculpas. E ainda se ofende se você não as aceita! Quem está pedindo desculpas não só fez algo desagradável como se sente no direito de exigir a sua compreensão!
Exemplo (claro que esse é um exemplo muito fraco para ilustrar a parte do “me ferir profundamente”, mas fala da última cobaia que achei pra testar minha teoria e por isso vou usá-lo):
Essa semana fui a um show. Veio passando uma mulher imensa e deu um bicudo no meu pé tão forte que não deu pra eu não dar um semi-xilique (peguei meu pé e fiquei falando “Aiaiaiaiaiai...”).
Ela parou, segurou no meu braço e disse. “Descuuuuulpe!” (bem miado). “Desculpe, por favoooor! Doeu, ne?”
Falei: “Ah, não vou desculpar não, não vai parar de doer!”
A mulher, estupefata, disse: “Então foda-se!”
E eu, já esquecida do pé, e como a mulher tinha ficado parada na minha frente esperando uma resposta, falei, bem calminha (finge): “Também não vai fazer parar de doer – Viu como pedir desculpas tem o mesmo efeito de falar foda-se?”
Ela saiu pisando duro. Do mesmo jeito que uma outra mulher que me queimou com o cigarro num outro show no ano passado, com quem tive um diálogo semelhante.
Queria que as pessoas entendessem que desculpas não saram. Queria que as pessoas parassem de achar que essa palavra é mágica e desfaz as coisas, resolve tudo. Parar de achar que se alguma coisa foi feita e causou prejuízo a outrem sem intenção, pode ser consertado com desculpas.
1 – não pode
2 – falta de educação não pode ser anulada por desculpas. Nem por beijos. Nem por flores. Nem por chocolates... Ta, nem por chocolates. Se fosse assim, as pessoas pensariam “Posso ferrar fulano à vontade, depois é só fazer um agradinho e tudo ficará bem de novo”. Não dá certo. Não comigo.
3 – a intenção não faz a menor diferença. Por acaso se alguém planeja enfiar o dedo no seu olho ou faz isso sem querer a dor é diferente? Se alguém te assassina ou te dá um tirinho sem querer você não morre do mesmo jeito? As desculpas te ressuscitam em algum dos casos?

Vou escrever mais sobre desculpas depois. De verdade. Não quero que este post fique enorme e venham reclamar comigo de novo depois. Enquanto isso, queridos, economizem desculpas direcionadas a mim, ok?

19 comentários:

Unknown disse...

Foda-se então! hahahahahahaha

marcotmarcot disse...

Claro que a intenção faz diferença. Se uma pessoa que te odeia te queima de propósito, você acha que é a mesma coisa que alguém que não te conhece encostar o cigarro em você acidentalmente? Essa visão empirista que não enxerga as causas, mas apenas os fatos, é de um nível intelectual mais baixo do que de um animal, que sabe evitar comida que dá choque após tocá-la uma vez.

Unknown disse...

Tóim-nho-nhóim!!!!

Me levantaram uma dúvida também:
E se fosse você pisando em alguém sem querer, vc simplesmente ignoraria a presença da pessoa e não falaria nada?

Anônimo disse...

bom...concordo com o que você diz mas penso que quanndo ocorre algum conflito na relação com pessoas que gostamos- o pedido de desculpa é pra mim um gesto de grandeza. Reconhecer o erro e verbalizá-lo em forma de desculpa é na minha opinião uma demonstração de humildade. ISso com pessoas que gostamos e queremos perto- eu geralmente peço para que a pessoa tome certo cuidado e não mais faça a coisa que provocou o conflito e tal....
Em relação aos outros exemplos- pessoas desconhecidas.....apesar de concordar com vc.... que desculpa não sara uma pisadinha no pé etc.... prefiro continuar pedindo e aceitando desculpas de acordo com as regras sociais ocultamente inscritas que regem a interação e comportamento de uma dada sociedade......

Haroldo Lage disse...

Eu não acredito que estou concordando com a Ira...

A questão da nulidade da desculpa é realmente uma instigação à reincidência do ato.

Em questões sociais abor mão do purismo conotativo em prol da boa convivência.

Mas sinceramente não acredito em desculpas.

Apesar de gastar mais tempo, sou muito mais um sincero "Sinto muito pelo o que eu te fiz e buscarei não repetir"

Obs: Ira, vc foi grossa com a agressora!!!!!

Janaína disse...

Resposta para o Grilo: Eu peço aquelas desculpas mecânicas.
Para Anoca: Concordo, para isso mesmo é que servem as desculpas mecânicas, para agirmos “de acordo com as regras sociais ocultamente inscritas que regem a interação e comportamento de uma dada sociedade......
Para Haróculo: Obrigada, pelo menos alguém me entende.
Para Marcot: Favor ler aqui.
Para quem não é o Marcot, mas está doido para ver o circo pegando fogo e o bombeiro de greve: Pode clicar no link também. É público. Só postei à parte pro comentário não ficar maior que o post.

Haroldo Lage disse...

Bem...
Sabe quando a gente pega o bonde errado andando e reclama com o motorista?
Pois é, rolou doidera do motorista comigo pegando o bonde parado, então vou dar pitaco sim.

Marcot, cuidado com a verborragia, a língua é a arma mais poderosa que existe. Já (https://www.blogger.com/comment.g?blogID=4263621618791870467&postID=9022209029588088917&isPopup=true) vi (http://recintoharocular.blogspot.com/2007/08/trema-trema-e-parapan-2007.html) em outras ocasiões vc discutindo energicamente.
E em alguns casos utilizando de ofensas (vale lembrar que ofensa é mais do que "Vc é um babaca").
A questão do "viva a vida aqui fora" se faz pertinente, tenho notado em seus comentário um 'q' acadêmico muito forte.
Nota que no comentário dessa página em especial você gastou 50% do texto defendendo o seu ponto de vista e 50% ofendendo pessoas que tem ponto de vista diferente do seu.
É válido lembrar também que em momento algum eu entrei no mérito do conteúdo que vc proferiu, apenas no método.

Haroldo Lage disse...

Santos links quebrados batman!
Primeiro
Segundo

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

vou sugerir uma coisinha só.....
que me parece fazer toda diferença e minimizar mal entendidos .....
- modalizar o verbo e usar menos imperativos ;)--- daí ao invés da gente escrever ou dizer - "vc deve pensar assim", "não diga isso", "a sua opinião é;...." etc ....podemos modalizar e dizer "olha fulano 'de repente' existem outros pontos de vista, 'quem sabe' a coisa pode ser enxergada com uma outra lente?
"porque vc pensa dessa forma"?
Acho que modalizar o verbo contribui para criarmos uma imagem
nossa - não de alguém que detém a verdade, mas de alguém que quer compreender o outro e problematizar com leveza o que o outro nos diz.

enfim.... as vezes o imperativo soa como grosseria e é interessante lembrar que na escrita não estamos face a face, não vemos os gestos o que nos obriga, talvez, a ter mais cuidado, no sentido de dar mais elementos, na escrita, para que o leitor produza o mesmo sentido (ou um sentido semelhante)àquele que nós queríamos imprimir no que escrevemos. As vezes um autor escreve com a intenção de produzir certos sentidos e sensações mas o leitor produz um outro sentido à revelia do autor.

E em relação ao tom acadêmico- não vejo problema desde que a pessoa tenha em mente que nem todos pertencem a esfera da academia né... e isso demanda, talvez, explicação de palavras técnicas, etc.... (só escrevi esse post porque tô, justamente, pesquisando sobre isso "lá no mundo acadêmico"...

enfim,,,, a coisinha foi sugerida. Quem achar que é uma boa idéia "bota o dedo aqui que já vai......."

Quem sou eu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Quem sou eu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Quem sou eu disse...

Não economizo não dona Ira. DESCULPE, decidi excluir meus comentários, ficar na minha e não entrar no mérito desse circo em chamas. Continuo caladinha por aqui, obrigada.

Patrícia Souza (Tiça) disse...

Como advogada do diabo, concordo completamente com o pessoal. Marco, vc tem que ser mais cuidadoso ao escolher as palavras. Mas tenho certeza absoluta que ele não fez por mal, não foi nada pessoal, apesar de estar errado da mesma forma.
=(

Patrícia Souza (Tiça) disse...

Ahh... e sim, desculpas são sempre bem-vindas!

Bruno Motta disse...

Ei moça!

Sério que vc pode me ajudar com a numerologia e tudo mais?

Meu nome completo é Bruno Motta de Lima, mas eu assino profissionalmente Bruno Motta.

Nossa, que emoção, eu sempre quis saber o que dava isso! :D

Meu email é brunomotta@gmail.com, fala depois comigo lá.

Adriana Rodrigues disse...

CARAMBA! O BRUNO MOTTA COMENTOU AQUI!

Ele comentou tipo MEIA VEZ no meu blog.

E você nem tem link aqui pro blgo dele. AH NEM.

Janaína disse...

Maria bonita, Bruno Motta é doido. Acho que ele queria mandar um email e postou aqui sem querer.

Janaína disse...

Quando vou contar dessa história pra alguem, tenho sempre que mandar meu link e mais o link do blog do Marcot (claaaro que teve tréplica, né) pra história ficar completa.
Agora fiquei espertinha. Colo o link aqui e não preciso ficar procurando toda vez.
Odeio histórias pela metade!