terça-feira, 26 de agosto de 2008

Imissão de posse

Aprendi palavrinha nova e tiiive que usar, claro. Não antes da angústia que antecede a consulta ao dicionário.
Escutei “imissão” pela primeira vez e logo pensei que se tratasse de alguém com problema de dicção tentando falar “emissão” ou “em missão”. Perfeitamente possível, dado que tem gente que fala “murango”. Horrível, mas tem. E eu conheço (quem vê até pensa que eu não falo “divera”...).
Então. Semana passada eu imiti na posse do trabalho novo.
Ah, é, tenho que contar o que é imitir, ó que lindo. Acabei aprendendo essa também, porque olhei num dicionário burro:

imissão
[Do lat. immissione.]
Substantivo feminino.
1.Ato ou efeito de imitir. [Antôn.: emissão. Cf. imisção.]


(Não agüento quando o Aurélio dá essas definições mongóis...)

imitir
[Do lat. imittere, com mudança de conjug.]
Verbo transitivo direto.
1.Fazer entrar; pôr para dentro; meter.
2.Investir em. [Cf. emitir.]


Então.
Recebi na sexta feriado um telegrama me mandando aparecer com mil documentos na terça seguinte pra tomar posse. Tá, eram só 19 documentos, mas enfim.
Sempre tem aqueles ridículos que a gente já tem fácil, como carteira de identidade e tals, e tem uns ridículos que a gente desorganizada deveria ter à mão, mas tive que gastar tempo do fim de semana procurando, como diploma e título de eleitor. Claro, jurei que vou fazer uma pasta de documentos. Mas também jurei isso da última vez em que precisei da minha carteira de trabalho, pus a casa abaixo, não achei, mandei fazer outra e – surpresa! – logo depois achei a velha. E não arrumei a pasta, óbvio. Assim, comprei a pasta e ela tá lá, cheinha de divisórias vazias. Tá, vou arrumar. Depois de 1º de setembro. Talvez.
Então. Na sexta era feriado e tive que esperar chegar segunda pra eu ir pra rua arrumar documentos como nada-consta e certidão do INSS de que eu não sou aposentada por invalidez(!). Claro, se eu fosse super aposentada por invalidez, acho que não ia ter muito jeito de esconder, né? Mas enfim. Matei uma manhã de trabalho correndo atrás dos documentos, autenticando coisas e tal.
Tive que tirar foto (terceira vez esse ano. Toda vez eu tiro oito, gasto uma ou duas e ainda não descobri o que faço com o resto). Claro que no único dia que tinha pra tirar foto, minha cara acordou que nem um Chokito e eu tava uma diva maquiando as espinhas na fila do INSS pra tirar a foto histórica que iria pra minha nova ficha funcional.
No dia seguinte, a imissão de posse. Matei serviço de novo, mas dessa vez, minha atual chefe já estava sabendo.
Cheguei lá com os documentos todos certinhos, juntinhos, na ordem. Quando me chamaram (chamaram logo, porque foi em ordem de classificação e eu tava até bem classificada), a moça ficou surpresa:
_Ó, você é a primeira que apresenta tudo completinho!
Como assim, tinha a opção de não apresentar tudo completinho? Tinha, o povo teve mais um prazo pra levar os documentos faltantes. Que favela, Jesus!
Quem recebeu a gente foi a Gerência de Incorporação (aquelas, né: se aparecer alguém aqui rodando e vestido de baiana eu saio correndo!). A mulher não foi nada amável, falou que o trabalho é ruim, o salário é ruim, as canetas são ruins e o plano de saúde é – adivinhe! – ruim! Falou que os nossos direitos estão na lei tal, mas que ela nem se deu ao trabalho de ler. Nessa hora eu parei de escutar – fiz questão de não escutar – e comecei a reparar na cara do povo. Tá, na roupa do povo. Já escolhi uma menina pra odiar. Pra amar ainda não, né, que amor é uma coisa construída, mas ódio eu distribuo de graça.
Nunca escrevi tanto meu nome na vida. Preenchi umas 20 fichas com cabeçalhos parecidíssimos, todas a mão. Fui a primeira a acabar (adedanha, eu te amo!) e tive que ficar esperando o resto do povo. Saco.
Depois de um tempo que eu estiver lá, vou sugerir que mudem a pessoa que recebe os calouros. A recepção pouco calorosa daquela (des)Graça broxa as pessoas, eu teria desistido se não fosse muito centrada (estrelinha pra mim).
Agora to fazendo mil exames médicos, demissionais, admissionais, atrasadais – porque eu fui procurar meus documentos e achei mais dois pedidos de exame velhos pra fazer. Meu médico nem põe data mais, porque já me conhece.
Ontem quase surtei de raiva aqui no trabalho. Depois lembrei que daqui a poucos dias não estarei mais aqui e liguei o foda-se. Liguei assim, né, concentrei todo o stress somente na prova de domingo. Porque se é pra sofrer do estômago, que seja por uma causa que me pague muitos milhares, né não?

Todo mundo rezando?

Amanhã não venho trabalhar: exame demissional de manhã, admissional à tarde e no meio do caminho tenho que buscar outro exame e ler uns pareceres...
Hoje pego meus óculos. Acho que isso pode ser útil pra prova de domingo. Porque se fizer diferença a cara de inteligente com que os óculos me deixam, já passei.
Imagem é tudo nessa vida.


P.s.: Ilustração tirada de muleburra.blogspot.com.

Um comentário:

Cadê o Revisor? disse...

Só um pequeno protesto: eu falo /murãgu/. Até parece que você não é mineira!

Beijo,

Pablo
http://cadeorevisor.wordpress.com