domingo, 23 de março de 2008

Páscoa da Ressurreição


Tirei essa semana que passou pra estudar. Mudei pra casa da Carol. Eu, ela e Caio estudamos todos os dias, quase o dia inteiro. Super produtivo, de verdade.
Minha vó (a Mãe Dindinha, de que falo sempre) tava doentinha, internada desde a semana anterior.
To lá na quarta, feliz e contente, e minha mãe liga chorando, dizendo que a Dindinha tava “muito mal, muito mal mesmo”. Desliguei o telefone e falei pros meninos: “Gente, minha vó morreu”. Os dois pararam o que estavam fazendo e arregalaram os olhos pra mim. Eles devem ter ficado desapontadíssimos porque eu não comecei a chorar, não bati a cabeça na parede e não gritei que queria ir junto com ela. Eu sou uma pessoa espiritualizada, meus caros. Toda a minha família, inclusive. Mas já estou acostumada com as pessoas se assustarem com o fato de nossos velórios não terem choro e ranger de dentes. Tá, só um pouquinho, mas sem escândalo, o que acho ótimo e chique.
Mas enfim, depois que consegui fazer os dois fecharem a boca (de pasmos), liguei pra duas tias pra descobrir como iríamos pra Guanhães. No final, acertamos que iríamos de carro. Leia-se: eu tinha mais um tempinho pra terminar de estudar, almoçar e tals. Eu estava fazendo o almoço e continuei, dei mais uma parte do negócio de estatística que eu estava explicando pros meninos, comi bastante, arrumei minha mochila, o cachorro da Carol avançou em mim, dei um chilique e só então saí. Caio, menino fofo, foi me levar ao encontro do meu pessoal.
No carro, descobri que ninguém tinha certeza se minha vó tinha ou não morrido. Eu falei: “Gente, minha mãe usou o código internacional da família para a morte!” Pra quem não sabe, ninguém na minha casa liga pros outros e fala “fulano morreu”, mas fala, em geral chorando ou pelo menos com a voz embargada: “fulano está muito, muito mal”. Medidas pra evitar mais mortes simultâneas, por susto e tal. É o código internacional da família. Código tácito, ninguém combinou isso, mas é assim que é.
Enfim, resumindo, chegamos lá em Guanhães e vimos que minha mãe tinha feito uso indevido do código. Quando ela disse que minha vó tava muito mal, era só isso, ela só tava muito mal mesmo, mas bem vivinha. Passei até um tempo no hospital com ela. Ela tá muito fraquinha,cerca de 30% do coração funcionando só, com soro na veia e oxigênio, mas viva. Conversando um monte.
Da hora que eu soube a primeira notícia até chegar em Guanhães e decodificá-la, falei pra umas pessoas o que eu pensava que tinha acontecido. Tratei de mandar logo uma mensagem desfazendo o equívoco, né, não podia esperar as pessoas ligarem perguntando que dia seria a missa, claro que não.
Minha mãe me passou um susto. Apesar de todo mundo falar da minha frieza, claro que amo a minha Dindinha e vou sentir super falta dela quando ela for. Mas uma hora ela vai ter que ir e todo mundo vai ter que estar preparado. O legal dessa confusão foi que acabou reunindo toda a família em volta da minha vó vivinha. Porque depois que a pessoa morre, não adianta mesmo todo mundo sair correndo, pro corpo não faria nenhuma diferença.
Minha Dindinha deve ter adorado ver aquele monte de filhos e netos se acotovelando em volta da cama no hospital, cada um querendo ficar mais pertinho dela. Uma hora ela virou pra mim e disse: “Eu to ruim mesmo, né, todo mundo veio correndo pra cá!” E eu falei o que tínhamos combinado: “Nada, Dinha, a gente veio foi pra passar a Semana Santa, é coincidência a senhora ainda estar internada!” Ela riu. Será que ela sabe que o coração dela tá funcionando cada dia menos, que o pulmão tá congestionado e que é pouco provável que ela volte pra casa? Espero que não saiba, ela não pode desistir, não agora.
Sei que antes de vir embora eu dei nela o abraço mais apertado que consegui dar sem sufocá-la. E quem já estava rezando por ela, pode continuar.

Feliz Ovo de Páscoa a todos.

3 comentários:

marcotmarcot disse...

Melhoras para sua vó.

Anônimo disse...

boas energias estão a caminho....

Janaína disse...

Obrigada.