terça-feira, 13 de novembro de 2007

Rodinha


Quem é do meio da dança de salão sabe o que é fazer uma rodinha. E sabe, principalmente, que essa expressão não tem nenhuma conotação sexual, como algumas mentes sujas podem estar pensando.
Tentei procurar no dicionário pra colocar a explicação aqui, mas lógico que não achei. Rodinha é assim: quando a gente fala “vamos fazer rodinha pra fulano”, significa que o fulano vai ficar no meio de uma rodinha (!) formada pelo povo que estava fazendo aula (a rodinha é no fim da aula). Alguém, em geral o professor, solta a música, de um dos ritmos que se dança naquela aula. O fulano começa dançando com alguém e, ao longo da música, todo o pessoal da rodinha dança com o fulano, se revezando sem parar de dançar, um inferno.
Se é um fulano, revezam as damas, e se é uma fulana, os cavalheiros, mas há exceções.
Na minha escola, o povo tem a estranha mania de fazer rodinha pras pessoas por ocasião do aniversário.
Como todo mundo que lê isso aqui já está enjoado de saber, de tanto que eu falei, foi meu aniversário. Já estava quase dando graças a Jesus por ter caído num domingo e escapado da rodinha, mas Murphy é que é meu pastor, e rodinha não me faltaria, claro.
Ontem eu tive aula até 22h30. Coisa light pra quem tá arregaçada do final de semana e no meio de uma arrumação de mudança. Depois eu conto aqui da mudança, não hoje.
Lembrei que há pouco tempo houve um aniversário no final de semana, e a rodinha foi “celebrada” na segunda, nessa aula especial que temos de 21h30 às 22h30. Comecei a ficar com medo. E comecei a rezar pra que alguma coisa impedisse a rodinha.
Aprendi no catecismo que pra realizar as coisas basta ter uma fé do tamanho de um grão de mostarda, mas a minha é menor que um quark.
Torci pro povo esquecer, ou ficar com preguiça, ou pra eu ter um estiramentozinho leve, assim, nas duas pernas, pro povo me poupar desse martírio.
Pra vocês terem uma idéia, eu não gosto de rodinha nem dos outros. Quando é uma dama, beleza, não tenho que dançar com ela, e posso me limitar a compor a roda, no máximo batendo palmas, não necessariamente no ritmo. Jajá eu falo da minha falta de coordenação.
Quando o “homenageado” é um cavalheiro, eu já começo a ficar tensa. O cara tá lá no meio, feliz da vida, deslumbrado com aquele fluxo intenso de mulheres como ele nunca viu na vida, doido pra dançar na potência máxima.
Simplesmente não consigo entrar na rodinha. Sabe quando o povo batia corda, quando começava a bater antes pra gente entrar? Então, eu nunca conseguia! Ficava olhando a corda, acompanhando como os olhos, com a cabeça, com as mãos, flexionando os joelhos meio no ritmo, fazendo tudo como se fosse entrar, mas nunca entrava. Até o povo que estava batendo a corda apelar e parar de bater ou encher o saco, me fazer entrar mesmo de qualquer jeito, a despeito da preparação, e errar a porcaria do negócio, embolando a corda nos pés.
O tipo de aviso a que a gente deve dar atenção na vida e ter a presença de espírito de nunca se meter a fazer coisas que exijam muita coordenação, como artesanato, cirurgias, dança de salão e afins.
Tá, era assim, na rodinha dos outros eu tinha medo de entrar e errar o negócio, perder o passo, atrapalhar o cavalheiro. E é muito chato não entrar, porque depois que já foram todas as damas e só falta você, o povo já começa a te olhar torto, tipo: “Anda!”. Inferno!
Damas respeitadíssimas já me ensinaram que é só começar acompanhando (imitando) a dama que está dançando, aí você entra direito. Nem é simples assim. Falei que a música de uma rodinha é sempre rápida? Pois é. E que se você entrar com o pé errado não dá tempo de consertar? Também. Não antes de ferrar com o negócio.
Então, ontem, eram 22h31, passando da hora de terminar a aula que foi super hard e a professora se encaminhou pro som. Já estava até ouvindo ela gritando “Valeu, gente!”, mas ela, ao invés disso, fez duas coisas desagradáveis simultaneamente:
- falou: “Vamos fazer uma rodinha pra Jana e pra Renata, que foi aniversário delas”, e
- colocou um zouk super ultra high mega plus advanced rápido.
Queria morrer. Antes de começar, de preferência. Quando eu falo isso, quem não me conhece pode até pensar que sou uma pessoa tímida, mas não sou não, mesmo. Sou até bem cara-de-pau. Deve ser algum tipo de distúrbio congênito, sei lá.
Atenuantes:
Era naquela aula especial de que já falei, tarde da noite, e não tinha nenhum aluno na escola mais, só gente da equipe, e eu ia dividir a rodinha com outra dama, dividindo a atenção das pessoas pros meus vacilos por 2.
Agravantes:
Odeio rodinhas, odeio zouk (pra quem não conhece, leia ou veja o que é), principalmente se for rápido. Não tenho jeito, nem cabelo e muito menos sex appeal pra esse tipo de coisa. Me sinto uma pomba-gira e isso não é nada confortável. (Inclusive criei uma comunidade no Orkut, chamada ”Eu tenho medo de cambrê”. Ah, é, pra quem não sabe, cambrê é isso aqui).
Bom, no final deu certo, apesar de que a cada cavalheiro que entrou, eu tentei acompanhá-lo e acabei fazendo-os errar, mas tá valendo. Estou livre até o ano que vem, pelo menos.
Ano que vem meu aniversário vai cair num dia de semana e só vou à escola se forem 4 aulas de forró.
Ah, não, acho que vou sugerir um curso de férias de Rodinha pra janeiro, pra ver se eu aprendo. Quem sabe eles ensinam pelo menos a fazer aquela cara superior de que a situação está sob controle...

2 comentários:

Quem sou eu disse...

Tá bom a culpa foi minha...eu que dei a idéia pra Jana pra fazer sua rodinha...Sim eu sou má, mas eu ainda te amo! rsrsrs
Veja pelo lado positivo: eu não sabia que você não gostava de rodinhas.
No meu aniversário não teve rodinha pra mim. Fiquei mó decepcionada...eu mó queria....

Janaína disse...

Ai, Gau, sua novilha, você me paga! Vou me vingar impedindo todo e qualquer tipo de rodinha pra você no seu aniversário do ano que vem!